terça-feira, 7 de junho de 2011

TERCEIRO PERÍODO, O TEMPO DAS EXPLICAÇÕES

Embora seja um produto com saída ao longo do ano lectivo, o aproximar do seu final, designadamente no ensino secundário, aumenta significativamente a procura de "explicações", um importante nicho de mercado. Ao que parece, embora afectada também pela crise, na procura desde o início do ano, nesta altura mais próxima dos exames os “centros de explicação” estão com taxas de ocupação satisfatórias. O JN refere hoje que metade dos alunos do ensino secundário recorre a explicações.
Merece também registo que, de acordo com as leis do mercado, neste nicho de negócios, a oferta passou a ser extremamente diferenciada, adaptando-se não só às necessidades dos alunos mas, fundamentalmente, às disponibilidades económicas das famílias. É possível obter, desde a explicação individual ao domicílio, até às mais económicas e despersonalizadas sessões de revisões em grupo, desde o curso intensivo à aula temática avulsa, desde o pagamento por hora à compra de pacotes de horas, certamente com algum desconto, etc.
A instituição explicação é velha e orienta-se em duas grandes direcções, a ajuda ao aluno pouco trabalhador e motivado que pressionado pela família vai para a explicação à procura de um sucesso menos trabalhoso, ou, por outro lado, tenta minimizar dificuldades que a escola, pelas mais variadas razões não consegue atenuar. Como é reconhecido, uma explicação de última hora não garante sucesso, importa regularidade e continuidade nesse trabalho. Muitos alunos não são eficientes na forma como se organizam para estudar, são pouco autónomos, pelo que, quando este tipo de matéria, os métodos de estudo, não é trabalhado na escola, surge, obviamente, a necessidade da ajuda externa para suprir ou minimizar essas dificuldades.
Por outro lado, devido ao custo, o acesso à explicação está, naturalmente, condicionado pelas disponibilidades económicas das famílias, independentemente do actual cenário de crise. Quer isto dizer que a aposta e o investimento em recursos e apoios disponibilizados na escola pública, promovendo ao limite a sua qualidade é, continua a ser, a única forma de garantir a equidade de oportunidades para o sucesso, caso contrário só será acessível a quem tenha dinheiro para o comprar.
Esta situação serve-me de pretexto para, mais uma vez e sempre, enfatizar que a melhor forma de não fazer depender o sucesso escolar dos alunos da capacidade económica dos pais é investir na qualidade e exigência da escola pública. Defender que a equidade entre os alunos se estabelece pela promoção e financiamento do acesso ao ensino privado é a desistência e o desinvestimento na escola pública, cuja qualidade e rigor são a marca de água dos países desenvolvidos.

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