segunda-feira, 6 de junho de 2011

AS CRIANÇAS DESAPARECIDAS E AS QUE ESTÃO DESAPARECIDAS MAS À VISTA

A propósito da decisão de agora levar a julgamento um arguido por crime de rapto relativo ao desaparecimento de Rui Pedro ocorrida há 13 anos, algumas notas.
Do ponto de vista jurídico, sem conhecimento de pormenores e sem formação na área, limito-me a estranhar a morosidade do processo e que apenas agora se produza uma decisão, quando a própria responsável do DCIAP há tempos afirmava que não existiam novas provas.
Nada que nos surpreenda no estado calamitoso da nossa justiça e que apenas contribui para a representação que temos sobre a ineficácia, demora e injustiça do sistema.
A minha abordagem remete mais para a própria questão das crianças desaparecidas que reentrou na agenda. Uma situação desta natureza é uma tragédia absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar a situação é de uma violência inimaginável. Deste ponto de vista, até pode acontecer, embora duvide, que em julgamento se produza algum esclarecimento sobre o que se passou há 13 anos, o que poderia contribuir para aquietar dor sem fim que a família carrega.
No entanto e a este propósito, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Muitas crianças vivem quase abandonadas dentro das famílias, sós e sem a atenção que necessitam para crescer. Vão sobrevivendo fechadas em ecrãs e em companhia de outra gente tão desaparecida quanto eles. Nestas situações só quando algo de mais complicado acontece é que se nota como estavam desaparecidas da atenção dos adultos, desaparecidas da preocupação dos adultos.
Com mais atenção teríamos, certamente, menos crianças desaparecidas.

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