quinta-feira, 21 de abril de 2011

UM PAÍS DE TOLERÂNCIA E A INTOLERÁVEL DANÇA DAS CADEIRAS

A administração das designadas tolerâncias de ponto sempre foi uma excelente ferramenta de acção política, razão pela qual a tradição em Portugal sempre foi de alguma generosidade nessa matéria.
A decisão de conceder hoje tolerância de ponto à administração central e em empresas públicas inscreve-se nessa acção política, nada como um tempinho de férias extra em tempos de crispação e dificuldade.
Bem podem os economistas chamar a atenção para a necessidade de produtividade e para o custo económico das tolerâncias de ponto ou o facto de o sector privado se manter a trabalhar bem como algumas autarquias que recusam a “benesse”.
A questão não tem nada ver com economia, tem a ver com política, pura e dura. Aliás, o facto de Passos Coelho já ter vindo contestar a tolerância de ponto é prova disso mesmo. Nunca nenhum governo, mesmo do PSD, geriu este processo de outra forma que não a busca de uns dividendos políticos graças à simpatia, por assim dizer, com que nós os portugueses olhamos os dias de descanso extra que nos são oferecidos.
Certamente ainda de forma mais animada com a retoma do PS nas sondagens, continuamos a assistir ao deplorável espectáculo da dança das cadeiras, também conhecida por elaboração de listas. Há frente no brilho está o grande momento protagonizado pelo contorcionista Fernando Nobre e a sua escolha por parte do PSD de que hoje foi conhecido mais um episódio com a posição de António Capucho. No entanto, outros episódios, com outros protagonistas e com outros partidos vão animando a dança. Luís Amado não quis e o PS não quis Teixeira dos Santos. O conhecido algarvio e residente desde sempre por tais terras, João Soares causou alguns estranhos embaraços entre os socialistas algarvios com a sua indigitação como cabeça de lista por Faro, mas a coisa passou e João Soares fica com a cadeira.
Ainda me comovi ao ver num jornal televisivo uma Sra. Dra. Celeste Correia que não tinha o prazer de conhecer, afirmar com ar de miúdo envergonhado e em voz baixa que esperava ficar (com uma cadeira) pois tinha trabalhado bem, mas as estruturas do PS assim não o entenderam e paciência, são uns ingratos, quase deu para perceber uma lágrima ao canto do olho.
Esperando ainda que a semana santa nos ajude a ter uma santa paciência, tolerância, ouvimos Otelo Saraiva de Carvalho, em nova prova de vida com mais uma brilhante e rigorosa análise histórica e política, afirmar a necessidade de termos um homem com a inteligência e a honestidade de Salazar nestes tempos que atravessamos.
Na verdade, mais do que tolerância de ponto é necessária tolerância de espírito. Não há saco.

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