quarta-feira, 20 de abril de 2011

ELES, OS GAJOS, É QUE TÊM A CULPA

Em mais um estudo de opinião sobre a nossa vidinha, 86 % dos inquiridos culpam José Sócrates e Cavaco Silva pelo estado a que o país chegou.
Tal número não surpreende, existe em Portugal e, naturalmente, para os portugueses uma entidade mítica e indefinível, omnipotente e omnipresente que tudo explica, tudo sabe e de tudo é responsável o que, obviamente, nos iliba de qualquer resíduo de responsabilidade por aquilo que nos acontece, não nos ocorrendo, por exemplo, que aqueles dois senhores assumem as funções que assumem por eleição.
Essa entidade mítica e indefinível liga-se fundamentalmente ao que de menos positivo nos acontece ou fazemos. Não, não estou a falar de uma entidade divina, estou a falar de algo mais complexo, se assim se pode dizer. Estou a referir-me a “ELES”. Se bem repararem, “ELES” estão absolutamente enraizados nos nossos discursos quotidianos. Apenas alguns exemplos. “Só querem o deles”, “Eles é que mandam”, “A culpa é deles”, “Eles querem assim, a gente faz”, “Eles apanham-se lá e estão-se nas tintas”, “Eles não fazem nada”, “Eles aumentam tudo”, “Isso é que era bom, faço como eles, que se lixe”, “Eles só fecham coisas”, “Eles só falam”, “Eu fazer mais? Façam eles”, “Eles têm grandes ordenados e depois não chega para a gente”, “Eles dão maus exemplos querem que a gente faça o quê?”, “Eles estão cheios dele e a malta na miséria”. “Eles pensam que somos parvos”, etc. etc.
O mais curioso, é que quando se tenta perceber sobre quem objectivamente estamos a falar, parece que se trata de todos menos de mim, ou seja, é sobre ELES. E assim explicamos a nossa vidinha.

PS – Por vezes, a referência a “ELES” é substituída pela fórmula, “OS GAJOS” o que empresta uma natureza bastante mais popular aos discursos.

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