sábado, 12 de março de 2011

O TERCEIRO SOBRESSALTO CÍVICO

Estou a escrever estas notas sem ainda termos conhecimento da dimensão das manifestações previstas para logo no âmbito do que tem vindo a ser chamado “Geração à rasca”.
No entanto, creio que podem desde já justificar-se algumas reflexões. Em primeiro lugar, parece-me necessário sublinhar que, tal como a socióloga Natália Alves lembra no Público, desde os anos 80 todas as gerações se sentem à rasca à entrada no mercado de trabalho. No início da década de 80 o desemprego jovem era de cerca de 22%. O fenómeno do desemprego elevado entre os jovens não é, portanto, novo. O que agora o torna diferente é que o nível de qualificação dos jovens desempregados é o mais alto de sempre embora, como sempre afirmo, importe considerar que os jovens não estão desempregados por serem qualificados, estão no desemprego porque os modelos de desenvolvimento do país e do mercado de trabalho não são suficientes para absorver a mão de obra qualificada e a organização do mercado de trabalho se alterou. O DN de ontem referia que em termos europeus só a Polónia tem uma taxa mais alta de contratados a prazo. É também importante referir o enviesamento que a negligência da tutela facilitou nas áreas de qualificação dos jovens levando à existência de formações especializadas com enorme dificuldade entrada no mercado de trabalho. Como exemplo muito pontual, ontem num jornal televisivo alguém se queixava por estar no desemprego tendo um Mestrado em Estudos para a Paz. Por outro lado, daqui a alguns anos, certamente verificaremos que dos jovens que hoje estão à rasca estarão melhor os que tiverem qualificação.
Uma segunda nota remete para a realização da manifestação mobilizada de forma informal através das já todo presentes redes sociais. Do meu ponto de vista, esta manifestação é o terceiro grande movimento de contestação social nos últimos tempos que escapa ao controlo dos aparelhos partidários, a verdadeira mudança. O primeiro episódio foi a gigantesca manifestação de professores em Março de 2008 que excedeu largamente a esfera de influência do movimento sindical, o segundo foi a recente candidatura presidencial de Fernando Nobre e os resultados que obteve.
Este tipo de movimentos, emergentes fora das organizações partidárias que de formas mais ou menos explícitas tentam “apanhar boleia” revelam que, muito provavelmente, ainda é possível esperar a mobilização em escala alargada da participação cívica das pessoas. Estamos habituados a movimentos de menor escala como a manifestação contra o fecho da maternidade, da escola, do centro de saúde ou a portagem da SCUT. No entanto, nas mais das vezes verifica-se instrumentalização partidária de naturais focos de descontentamento dos cidadãos.
Interessante será verificar, pois, a dimensão que este movimento possa evidenciar e a reacção dos actores políticos do costume, os donos da partidocracia, a este terceiro sobressalto cívico.

PS - As primeira notícias referem números significativos de adesão pelo que se acentua a curiosidade sobre a reacção e eleituras da classe política "institucionalizada". Talvez se sintam um pouco à rasca, ou não. A responsabilidade incomoda, ou não.

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