segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

MAIS MIÚDOS, UMA BOA NOTÍCIA

Finalmente uma boa notícia, nasceram mais crianças em Portugal em 2010 do que em 2009. Segundo dados da Comissão Nacional do Diagnóstico Precoce os nascimentos ficaram acima dos 100 000.
Os especialistas alertam para que ainda é cedo para se afirmar a inversão da tendência verificada nos últimos anos, mas não deixa de ser um sinal positivo e de certa forma inesperado. Esta alteração apesar de positiva deve ser encarada com alguma cautela pois o ISF, Índice Sintético de Fecundidade, (nome sofisticado que significa o número de filhos por mulher em idade fértil), é, creio, 1,36, valor abaixo de 2,1 o necessário para assegurar a renovação geracional.
A questão central justificativa deste inverno demográfico não é, do meu ponto de vista, a actual crise económica, a tendência de abaixamento já se verificava antes dela se instalar embora as questões económicas sejam importantes.
De facto, para além dessas questões importa considerar a alteração dos estilos de vida e do quadro de valores ao que acrescentaria dimensões de natureza mais psicológica como os níveis de confiança e esperança face ao futuro.
É conhecido, por exemplo, que as mulheres portuguesas são das que mais horas trabalham fora de casa. É conhecido que os modelos actuais de organização dos horários complicam fortemente a vida familiar. É conhecida a falta de respostas de qualidade e acessíveis à generalidade das pessoas para a guarda das crianças nos tempos laborais das famílias. O prolongamento sem fim da estadia dos miúdos na escola não é uma solução com qualidade, apesar de excelentes experiências pontuais e do empenho das pessoas envolvidas. É conhecido e afirmado por sociólogos e antropólogos que as gerações actuais parecem “amadurecer” mais tarde, o que implica alterações nos projectos de vida, que podem traduzir-se em parentalidade tardia ou a não inclusão da parentalidade nesses projectos de vida.
Como referi acima, importa ainda perceber o efeito que também neste universo têm a percepção de confiança e esperança num futuro melhor. Discursos catastrofistas e a ausência de medidas que sejam percebidas com promotoras de desenvolvimento e bem-estar acentuam a desconfiança e aumentam o receio face aos custos da maternidade.
Provavelmente, se nos convencêssemos todos da necessidade de construir um mundo mais amigável, como se diz na informática, se as lideranças e a cultura política fossem promotoras de confiança e de optimismo realista, talvez os miúdos fossem mais desejados e fabricados.
Só ficaria a faltar recebê-los bem.

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