sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

OS DITADOS

Ao que parece, os ditados terão começado em cair em desuso nos contextos em que mais utilização tinham, as escolas, e com uma função relativamente clara, contribuir para que os mais novos aprendessem os mistérios da escrita.
Provavelmente para compensar, tornaram-se a mais comum, ou quase, forma de relação verbal entre nós.
Pode parecer estranho, mas se bem repararmos em muitas circunstâncias do nosso quotidiano, a comunicação que nos é dirigida não tem como objectivo a interacção, a troca, a conversa, é uma comunicação de sentido único em que o emissor dita aquilo que entende que o outro deve pensar, fazer, saber, etc.
Muitos dos enunciados que produzimos apenas começam por "na minha opinião" ou "do meu ponto de vista" e acabam num eventual "que achas?" ou "concordas?" por retórica, para enfeitar, na verdade os enunciados são quase sempre postulados detentores da verdade e não discutíveis.
É, aliás, curioso verificar que muita gente começa as suas falas com a fórmula "é assim" e depois dizem-nos, ditam-nos, a sua verdade.
Certamente por coincidência, ditado e ditadura são termos com a mesma raiz.

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