domingo, 28 de novembro de 2010

TELEMÓVEIS PARA CRIANÇAS, PARA AS QUE NÃO PASSAM FOME É CLARO

Numa coexistência que as sociedades desenvolvidas, caracterizadas pela assimetria insultuosa entre quem tem muito e quem tem nada, promotoras de exclusão, aceitam sem grandes sobressaltos, o Expresso de ontem mostrava no 1º caderno algo que me parece interessante.
Numa página, apresentava-se um trabalho a propósito da campanha em curso este fim-de-semana de recolha de alimentos por parte dos Bancos Alimentares. Nesse trabalho revelava-se que, de acordo com um inquérito promovido pela Universidade Católica, o Banco Alimentar e a Entreajuda, cerca de 53 000 crianças passariam fome sem a ajuda dos Bancos Alimentares. Era ainda referido, já foi notícia há umas semanas atrás, que algumas autarquias, no caso Porto e Sintra, irão manter em funcionamento as cantinas escolares durante as férias de Natal que se aproximam devido às enormes dificuldades que muitas famílias atravessam para garantir patamares mínimos de necessidades alimentares para as crianças. Dramaticamente, nada de novo.
A circunstância curiosa, por assim dizer, é que uma outra página era integralmente ocupada com publicidade a telemóveis para crianças produzidos pela Optimus. Não sei, mas imagino que as outras operadoras tenham oferta para o mesmo "target", como se costuma dizer em publicidade". Em título podia ler-se, "De pequenino se fala ao telemóvel" e era afirmado que o produto tem o tarifário ideal para crianças dos 7 aos 12 nos, repito, dos 7 aos 12 anos, vem acompanhado com as mais eficazes medidas e serviços que garantem toda segurança que descansa pais e até está criado um Portal Zone Kids onde "o seu filho encontrará conteúdos lúdicos e didácticos". Todo o anúncio está construído de forma a que um pai minimamente preocupado com os seus filhos, depois de ler e comprar, claro, o aparelho agradecerá reconhecidamente à Optimus a preocupação para com os miúdos e a sua segurança. Deve ser também a isto que se chama a responsabilidade social das empresas.
Como é óbvio, o espírito natalício que começa a descer sobre nós, mesmo em tempos de crise, potenciará situações deste tipo, que eu nem sequer deveria estranhar. Mas o problema é que tenho ingénua mania de acreditar que não pode valer tudo.

Sem comentários: