terça-feira, 16 de novembro de 2010

AS PALAVRAS

O Presidente da República naquele seu jeito esfíngico, sem emoção, afirmou que “existem palavras a mais na vida pública” para justificar mais uma não opinião sobre qualquer questão que lhe era colocada.
É interessante esta questão das palavras a mais. Não me parece que existam palavras a mais, existe comunicação de menos, ou seja, o que a vida pública mais tem para nos mostrar é discursos sem interlocutor. Cada um dos actores ou protagonistas fala para algo ou alguém de indefinido e parece pouco disponível para o essencial, utilizar as palavras como suporte da comunicação e dos entendimentos, não estou a dizer concordâncias. As pessoas estão cansadas de retóricas palavrosas, inconsequentes e centradas nos interesses dos aparelhos partidários ou das elites económicas. Como dizia, parece-me que, de facto, temos palavras a mais e comunicação a menos.
Por outro lado e paradoxalmente também creio que faltam palavras. Faltam palavras de solidariedade genuína para quem, vítima da crise que a especulação económica e modelos de desenvolvimento não centrados nas pessoas, vive momentos de enormes dificuldades num atentado diário à dignidade e com o quotidiano transformado na preocupação com a sobrevivência e a falta de uma palavra de esperança.
Como canta Paco Ibañez.
Las palabras entonces no sirven, son palabras...
Siento esta noche heridas de muerte las palabras

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