quarta-feira, 27 de outubro de 2010

OS CUSTOS DA CRISE DE ÉTICA

À espera do inevitável fumo branco que surgirá das negociações entre PS e PSD sobre o Orçamento geral do Estado para 20011 e ainda, creio, com uma percepção pouco clara das enormes dificuldades que teremos pela frente, as atenções centram-se na situação económica e na “surpresa” da recandidatura de Cavaco Silva.
No entanto, creio que vale a pena uma nota sobre uma outra dimensão da crise, a crise de valores, de ética, na política e nos negócios. O relatório anual da Transparency International coloca Portugal no 32º lugar na percepção sobre corrupção. Se considerarmos apenas os países da Europa ocuparemos o 19º lugar em 30, à frente de Grécia, Itália e de alguns países do leste europeu. Esta classificação, lamentavelmente, não traz nada de novo. Em entrevista ao DN Maria José Morgado afirma que a corrupção torna o país ainda mais pobre e continua a reclamar recursos e vontade política que permita um verdadeiro combate à corrupção.
Ainda sobre a mesma edificante temática, uma ex-Secretária de Estado, Ana Paula Vitorino, terá afirmado em depoimento à justiça que o ex-Ministro Mário Lino lhe terá lembrado que o empresário Rui Godinho, principal arguido do processo Face Oculta, era “um bom amigo do PS”. O “recado” destinava-se a que a intervenção da Secretária de Estado facilitasse uns negócios do empresário com a Refer, empresa que tutelava. Também é de lamentar e muito significativo que tal notícia não constitua propriamente uma surpresa para a generalidade das pessoas, é só ir mudando nomes e contextos.
Vamos desejar que a conjuntura económica e financeira melhore e que as dificuldades se atenuem. Mas a crise de valores em matéria de ética política e económica parece bem mais difícil de ultrapassar e mantendo este quadro dificilmente acedemos a outros patamares de desenvolvimento. Relembro a afirmação de Maria José Morgado, “a corrupção torna o país mais pobre”.

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