sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A CORROSÃO NA ÉTICA

No dia seguinte à pronúncia dos arguidos no processo Face Oculta e ao conhecimento sobre as “sugestões” de ajuda ao empresário Manuel Godinho, vem a Público os vencimentos interessantes do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães que prepara o a iniciativa da Capital Europeia da Cultura em 2012 e somos também informados que Jardim Gonçalves recusou renegociar os parcos valores da sua auto-atribuída pensão vitalícia do BCP. Estas informações constituem um insulto obsceno nos tempos que atravessamos e o despudor ético que tais comportamentos significam levam-me de novo a umas notas que há algum tempo aqui deixei.
O despertar das consciências para as questões do ambiente e da qualidade de vida colocou na agenda a questão das pegadas, das marcas, que imprimimos no mundo através dos nossos comportamentos. Este novo sentido dado às pegadas tornou secundárias e ultrapassadas as míticas pegadas dos dinossauros e as românticas pegadas que os pares de namorados deixam na areia da praia.
Fomo-nos habituando a ouvir referências às várias pegadas que produzimos com nomes e sentidos mais próximos ou mais distantes mas, sobretudo, tem-se acentuado a grande preocupação com a diminuição do peso, isto é, do impacto das nossas pegadas. Conhecemos a pegada ecológica numa perspectiva mais global ou, em entendimentos mais direccionados, a pegada hídrica, a pegada energética, a pegada verde, a pegada do papel, a pegada do carbono, etc.
Do meu ponto de vista e sempre preocupado com o ambiente, com a qualidade de vida e com a herança que deixaremos a quem nos segue, nunca encontro referências e muito menos inquietações sérias com a pegada ética, isso mesmo, a pegada ética. Os comportamentos e valores que genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e negligência que dedicamos aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação do ambiente e da qualidade de vida das quais cada vez parece mais difícil recuperar.
As lideranças, hipotecando a sua condição de promotores de mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo peso e impacto que esta pegada ética está a assumir.
Vai sendo tempo de incluir a pegada ética no universo da luta pelo ambiente, pela qualidade de vida e pelo futuro.

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