sábado, 11 de setembro de 2010

ROTINAS

Felizmente que a coisa acalmou, sobretudo no que respeita à vida dos mais pequenos. Há alguns anos começou a emergir um discurso crítico sobre as rotinas e a sua função. Eram então frequentes as afirmações que combatiam a sua instalação e por oposição à importância da criatividade, da inovação, da não repetição sistemática de comportamentos ou procedimentos, etc. No fundo, traduzindo o enorme equívoco de entender que as essenciais dimensões da criatividade e inovação, por exemplo, seriam incompatíveis com a instalação de rotinas, elas próprias também essenciais ao desenvolvimento e funcionamento das crianças devido, fundamentalmente, à sua função reguladora e organizativa. O resultado em muitas circunstâncias e contextos educativos, familiares ou mais formais era, é, um funcionamento desregulado, desorganizado e sem regras.
Entre os adultos o equívoco está ainda presente de forma mais nítida. Ouve-se com alguma frequência a afirmação de se ser contra as rotinas como forma de emancipação intelectual e social.
Tal como nos miúdos, as rotinas cumprem funções fundamentais na nossa organização e funcionamento. A sua existência organiza-nos e, curiosamente, até acontece com frequência que é sua existência que nos permite “libertar” disponibilidade para outras direcções. Como é óbvio, nada desta conversa contraria a importância que na nossa vida tem o lado do imprevisto, da mudança, da criatividade ou da quebra das rotinas. Também não tem a ver com a defesa de um funcionamento obsessivamente estruturado, que corre o sério risco de se desorganizar quando algum pormenor de rotina se altera.
Uma nota final. Este texto ocorreu-me porque ao chegar ao Meu Alentejo para o fim-de-semana, percebi que na mala do portátil não estava o dispositivo da banda larga. Lá se foram parte das rotinas, leitura e respostas de mail, pessoal e profissional, leitura da imprensa on-line, conversa via net com família e amigos espalhados, alguma pesquisa de trabalho e, claro, vir ao Atenta Inquietude. Alguma coisa parecia estar a faltar. Não sei se é bom ou mau, eu preferia não me ter esquecido.

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