quarta-feira, 29 de setembro de 2010

RITUAIS

O funcionamento das sociedades modernas, nas suas diferentes dimensões, envolve um conjunto muito alargado de rituais com significados e impactos diferentes.
O sistema político português que, lentamente, se transformou numa partidocracia, uma vez que os partidos através dos seus aparelhos e da alimentação de clientelas capturaram o essencial da participação cívica dos cidadãos, também instituiu, naturalmente, os seus rituais.
Um deles é a chamada de um membro do governo ao Parlamento para explicar, apresentar ou defender as políticas sectoriais de que é responsável. Parece razoável e um indicador da função fiscalizadora do Parlamento sobre o poder executivo. Só que em Portugal o Parlamento, ou seja, os deputados, salvo raras e honrosas excepções, são meros "papagueadores" das agendas partidárias que dizem o que chefe manda, carregam no botão que o chefe manda quando o chefe manda. Lamentavelmente é nisto que se transformou o eixo central de uma democracia política, o Parlamento.
É, aliás, elucidativo analisar o nível de confiança que os deputados, na sua generalidade, merecem ao cidadão comum, preocupantemente baixo.
Vem isto a propósito da ida ao Parlamento da Ministra da Educação, cujo resultado é, obviamente, antecipável. Os partidos da oposição dispararão em todas as direcções na habitual lógica, "o Governo fez ou disse, portanto, está mal feito ou dito", o PS responderá que "o Governo fez ou disse e, portanto, está certo". A senhora Ministra naquele jeito peculiar materno-voluntarista dirá, sorrindo, que a "realidade está enganada, tudo o que foi feito, foi bem feito e os irrelevantes incidentes foram equívocos que o diálogo (sempre o diálogo) permitem ultrapassar".
No final e perante a comunicação social, toda a gente assumirá um ar sério, chamam-lhe pose de estado, e afirmará a relevância das suas posições.
E cumpriu-se mais um ritual.

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