quinta-feira, 16 de setembro de 2010

JARDINS DE INFÂNCIA, EDUCADORES, MIÚDOS, PAIS, FENPROF E SEUS INTERESSES

Já aqui tenho referido que uma das medidas em matéria de políticas de família que mais impacto pode ter é a garantia de disponibilidade e acesso a creches e jardins de infância por parte das famílias. É sabido que nas zonas urbanas a oferta é claramente abaixo da procura. Sabe-se que existem muitas instituições que já nem em lista de espera aceitam novas inscrições. Como também não se estranha, esta situação é mais evidente no chamado sector social, Instituições Privadas de Solidariedade Social, pois a mensalidade é decorrente do rendimento familiar. O facto de as famílias, ao construir dos seus projectos de vida conhecerem a dificuldade e os custos para assegurar a estadia dos filhos após as licenças de parto, é um sério obstáculo ao à natalidade.
Começa hoje a ser discutida no Parlamento a petição desencadeada pela Fenprof e, certamente por coincidência, um projecto de diploma do PCP que vem defender que os calendários de funcionamento do pré-escolar sejam semelhantes ao do ensino básico. A justificação remete para a necessidade de participação da(o)s educadoras de infância nas reuniões de avaliação e planeamento dos respectivos estabelecimentos e agrupamentos.
Do ponto de vista profissional e corporativo entendo, o discurso dos representantes sindicais habituou-nos a uma defesa quase exclusiva dos interesses profissionais e corporativos dos professores, muitas vezes com razão, e menos dirigida para os interesses da comunidade educativa, miúdos e pais, por exemplo. Não se discute a necessidade de reuniões de avaliação e planeamento na educação pré-escolar e a sua articulação com o 1º ciclo, mas equiparar o calendário dos jardins de infância ao ensino básico, considerando as especificidades curriculares, pedagógicas, idade dos miúdos e impacto social, parece-me apenas sustentável à luz de uma posição meramente corporativa e destinada a manter em aberto a conflitualidade imprescindível às agendas políticas que tomaram conta da educação em Portugal.
A conflitualidade de interesses é algo de absolutamente normal, não é grave, antes pelo contrário, pode ser sempre um oportunidade de avanço, quando se quer, de facto, considerar todos os interesses envolvidos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois...dizer o quê?
Quando não se valoriza a educação pré escolar, quando não se acha necessário que o docente tenha oportunidade de planificar e articular com o ciclo seguinte´e avaliar, contribui-se para que não só os pais como a sociedade em geral, encarem o Jardim de infância como um mero depósito, onde os educadores mais não fazem do que brincar com os meninos.Cada País tem a educação que merece.

Zé Morgado disse...

Caro anónimo, se reparar em muito do que por aqui tenho escrito notará a importância que atribuo à educação pré-escolar (de pequenin é que ..). Outra questão é a gestão de todos os interesses envolvidos, designadamente os dos miúdos, essa é a questão central. Quem se move neste mundo da educação conhece o que se (não) faz em matéria de articulação entre ciclos e não é por causa do desajustamento calendário, Veja o que se passa entre o 1º e o 2º ou entre o 2º e o 3º.