domingo, 27 de junho de 2010

FILHOS, POUCOS E TARDE

O chamado inverno demográfico parece ter chegado para ficar. A renovação geracional exige um índice sintético de natalidade de 2.1 filhos por mulher e em 2009 verificou-se 1.32. O futuro do país não parece assim muito risonho, encaminhando-se para o estabelecimento de uma reserva onde os portugueses restantes serão objecto de programas de protecção e recuperação enquanto espécie ameaçada.
Parece ser consensual que este comportamento das famílias, o abaixamento significativo ou mesmo a inexistência de filhos, estará associado a questões económicas, a situação de crise é naturalmente desfavorável, mas, sobretudo, à alteração dos estilos de vida e do quadro de valores ao que acrescentaria dimensões de natureza mais psicológica como os níveis de confiança e esperança face ao futuro.
Se as questões económicas podem ser de natureza conjuntural e minimizadas com apoios, (correctos e significativos), já me parece que as questões de valores e estilos de vida são de impacto mais significativo e de mais difícil alteração.
É conhecido, por exemplo, que as mulheres portuguesas são das que mais horas trabalham fora de casa. É conhecido que os modelos actuais de organização dos horários complicam fortemente a vida familiar. É conhecida a falta de respostas de qualidade e acessíveis à generalidade das pessoas para a guarda das crianças nos tempos laborais das famílias. O prolongamento sem fim da estadia dos miúdos na escola não é uma solução com qualidade, apesar de excelentes experiências pontuais e do empenho das pessoas envolvidas. É conhecido e afirmado por sociólogos e antropólogos que as gerações actuais parecem “amadurecer” mais tarde, o que implica alterações nos projectos de vida, que podem traduzir-se em parentalidade tardia, como o trabalho de hoje no Público ilustra, ou a não inclusão da parentalidade nesses projectos de vida.
Como referi acima, importa ainda perceber o efeito que também neste universo têm a percepção de confiança e esperança num futuro melhor. Discursos catrastrofistas e a ausência de medidas que sejam percebidas com promotoras de desenvolvimento e bem-estar acentuam a desconfiança e aumentam o receio face aos custos da maternidade.
Dada a complexidade das questões envolvidas e a importância de que se reveste o crescimento demográfico negativo, julgo que se deveria abrir um alargado debate sobre estas questões para que não fossem consideradas como uma curiosidade pouco relevante como creio que serão para muitos de nós.

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