sábado, 24 de abril de 2010

UMA HISTÓRIA DE VULCÕES

Há uns dias, numa a escola lá daquela terra onde acontecem coisas e onde vive o Professor Velho, aquele que está na biblioteca e fala com os livros, um dos gaiatos, o Marco, desencadeou uma cena complicada de gerir, ficou sem razão aparente e de forma súbita muito reactivo, com uma atitude muito agressiva e uma linguagem igualmente agressiva. Os colegas, um pouco perplexos, afastaram-se, um funcionário tentou intervir mas não foi bem recebido e apenas o aproximar de mansinho e a fala cativante da Professora Joana pareceram começar a tranquilizar o Marco.
O episódio foi, naturalmente, objecto de conversa, até porque nos últimos tempos já tinham acontecido outras situações da mesma natureza que alimentam o que a escola chama de onda de indisciplina.
Num grupo em que, de volta de um chá na sala de professores, se comentava o assunto o Professor Velho opinou daquela forma tranquila que talvez se tratasse de um problema de vulcões, poderia não ser um problema de indisciplina. Face à estranheza que a afirmação provocou o Velho começou a falar de como se tem vindo a instalar em muitos miúdos um mal-estar que, quase sem darmos por isso, os vai preenchendo por dentro. Uns resistem e com alguma ajuda que lhes possamos dar, quando estamos atentos, vão acomodando defesas e ajudas e reorganizam-se, sobrevivendo. Outros, mais vulneráveis e a que não conseguimos estar atentos, acabam roídos por esse mal-estar entranhado e pode acontecer que se afundem, implodam, se deprimam e desistam de si e de lutar pela vida ou, foi o caso do Marco, que a pressão do mal-estar dentro deles se torne tão grande e insustentável que provoque a explosão, entrem em erupção descontrolada que liberte aquela mágoa que lhes rói o sentir. Depois dessas erupções podem entrar em período de acalmia até à próxima explosão.
É agora que teremos de ir à procura do Marco.

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