terça-feira, 6 de abril de 2010

PALAVRA DE PROFESSOR

Agora trata-se de valorizar a palavra dos professores, ou seja, até prova em contrário, a palavra de um professor vale mais do que a dos outros envolvidos num incidente, reconhecendo-lhes o estatuto de autoridade pública. Continua a forma reactiva e voluntarista de funcionamento da actual equipa do ME.
Nesta senda de ir tentando reagir de forma avulsa aos problemas, a Senhora Ministra da Educação já admitiu que a ofensa grave a professores possa ser considerada crime público e, portanto, não carecer de queixa para que desencadeiem os adequados procedimentos de investigação. A proposta apresentada pela Fenprof retomou, aliás, uma ideia subscrita em 2002, sublinho 2002, pelo Conselho Nacional de Educação.
Do meu ponto de vista e não tendo nada a opor à classificação das ofensas como crime público nem ao reconhecimento do estatuto de autoridade pública, creio que importa ponderar alguns aspectos.
A imagem social dos professores tem vindo a sofrer uma erosão significativa, alguns estudos e a chamada "opinião pública" reflectem-no. As razões são variadas e dificilmente compatíveis com este espaço mas creio que uma boa parte da política educativa dirigida aos professores nos últimos anos, uma boa parte dos discursos dos lideres sindicais e os discursos ignorantes e irresponsáveis de alguns "opinion makers" têm dado um bom contribuo para que, em termos sociais, a imagem dos professores se desvalorize. Este processo mina de forma muito significativa a relação que pais e alunos têm com os professores, ou seja e sendo deselegante, "uma classe de gente que não trabalha", "que não se interessa pelos alunos", "que não quer ser avaliada", etc., (basta ver muitos dos comentários on-line a notícias que envolvem professores), não é, obviamente uma classe que mereça respeito pelo que se instala de mansinho um clima de reacção, desconfiança e fraqueza que minimizam o exercício da autoridade. Os pais e alunos que agridem e ofendem professores são uma espécie de "braço armado" dessa imagem social induzida.
Por outro lado, a cultura profissional e institucional em boa parte das nossas escolas e agrupamentos é ainda marcada por um excesso de individualismo. Quero dizer com isto que, lamentavelmente, os professores evidenciam níveis de cooperação e partilha profissional abaixo do que seria desejável. As razões serão várias e não cabem aqui, mas creio que justificam, muitas vezes, a não realização de queixas de incidentes, muitas vezes graves, por receio de exposição e demonstração de fragilidades face a colegas e responsáveis, o que uma cultura de maior cooperação atenuaria. Acresce ainda que, por desatenção, incompetência ou negligência muitas direcções de escolas e agrupamentos não vão muito longe na definição de dispositivos de apoio, recorrendo a outros docentes mais experientes ou à presença de dois professores por exemplo, que dariam aos professores apoio e confiança para o trabalho com os seus alunos.
Finalizando e, independentemente, da classificação como crime público das ofensas físicas a professores ou do seu reconhecimento como autoridade pública, urge caminhar no sentido de reconstruir a imagem social dos professores como fonte imprescindível de autoridade, saber e importância e, paralelamente, incentivar a construção nas escolas de dispositivos leves e ágeis de apoio aos professores de forma a que cada um não se sinta entregue a si próprio e com receio de "enfrentar" os alunos e os pais, a pior das situações em que um docente se pode sentir.
Este caminho é da responsabilidade de todos, ministério, sindicatos, direcções de escola pais, professores e alunos.

1 comentário:

Joaquim Ferreira disse...

Escreveu... "a cultura profissional e institucional em boa parte das nossas escolas e agrupamentos é ainda marcada por um excesso de individualismo. Quero dizer com isto que, lamentavelmente, os professores evidenciam níveis de cooperação e partilha profissional abaixo do que seria desejável."
Num texto que publicamos Avaliação de Professores Para Além das Fachadas podemos confrontar o leitor com esta questão.
Ainda assim, pergunto: Como se pode querer que a Escola seja hoje um local de cooperação quando o sistema de avaliação implementado apenas apela ao egoismo, ao esconder das estratégias ou "receitas" pedagógicas (por pouco ou muito milagrosas que sejam!)
Quando se criou a dieia de que só alguuns (poucos... mesmo muito poucos!) podem ser qualificados de Excelentes ou Muito Bons, não seria de esperar senão um incremento do individualismo.
É simples. Apliquem a mesma ideia aos Clubes de Futebol (como o Benfica ou o Porto, o Real Madrid ou o Barcelona onde, tal como em muitas escolas, TODOS os professores são Muito Bons e até Excelentes!).
Depois, coloquem-lhes como critério "o número de golos, faltas cometidas, partidas sem jogar,..." E analisem os resultados em termos de cooperação ente jogadores (enquanto equipa que são!) na hora de rematar à baliza...
É claro que o individualimos sofrerá um incremento. Mas agora, coloquem esses mesmos jogadores distribuídos pelas equipas do país, ainda que da mesma divisão. E veremos se jogadores como Cristiano Ronaldo ou Messi, passam ou não de bestiais a bestas de um dia apr ao outro. É que as equipas não são todas iguais. Há as que têm todos os jogadores muito bons ou excelentes e as que apenas têm Bons jogadores e um ou outro Muito Bom.
Será que para um Excelente jogador ser reconhecido como tal tem de se pisgar para um clube de menor nível? Não. É precisamente ao contrário.
Mas vamos experimentar. Digam aos jogadores que apenas 5% podem ser qualificados com Excelente (isto é, apenas UM!) e que apenas 20% podem ter Muito Bom (apenas 4!) em função dos objectivos (que não podem ser os mesmos pois os papéis são diferentes conforme a posição em que jogam, sejam guarda-redes, defesas, avançados...) para depressa se darem conta pra onde vai a unidade e a cooperação dos jogadores para o espírito de equipa.
Assim, a última reforma da Educação em Portugal veio criar o mais absurdo dos sistemas de avaliação. Este sistema, criado para valorizar quem subiu na vida à custa do "chico-espertismo" tão lusitano, não passa de ser a concretização de um velho provérbio: "Em terra de cegos, quem tem olho é rei!"
Com o novo sistema de avaliação, os professores "Excelentes" que se encontram numa mesma escola, se querem ver reeconhecido o seu mérito e excelência, "têm de se pisgar" para escolas onde haja professores menos bons
Só assim poderão aspirar a uma nota Excelente. Terá sido neste que se inspirou Sócrates...?
Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa !