quinta-feira, 8 de abril de 2010

O MIÚDO TOMADO DE PONTA, OUTRO DIÁLOGO IMPROVÁVEL

Um dia destes estava a Lisete com a colega do escritório, a Sandra, a almoçar no Centro Comercial, naquele snack A Tigelinha, que tem umas sopas que são um mimo, pena ter que comer em pé, quando a conversa dos filhos veio à baila, como de costume.
Ainda bem que estão a acabar as férias, não gosto nada que o meu Rodrigo fique em casa sozinho. Ele até se entretém muito com o computador, para ali joga e fala com os amigos. Se calhar até fala com o teu Miguel.
O Miguel nunca comentou.
Mas agora começam as aulas e vai ser outra ralação. O Rodrigo está um bocado aflito, teve umas notas que não foram grande coisa.
Lá nisso, o meu Miguel não me preocupa, as notas não são excelentes mas são boas.
Pois, mas o meu Rodrigo teve azar, os professores de Matemática, Inglês e Ciências tomaram-no de ponta. Nunca faz nada bem feito, estão sempre a prejudicá-lo.
Já falaste com eles Lisete?
Já, não adiantou nada. Disseram-me que ele estuda pouco, não está atento nas aulas, por vezes até nem se porta grande coisa e esquece-se muitas vezes de fazer os trabalhos de casa.
Então se calhar é por isso que as notas não são melhores.
Qual quê, já te disse, tomaram-me o miúdo de ponta. Tu não os conheces, o teu Miguel não anda na escola do Rodrigo. Ao meu sobrinho Gonçalo, que é mil vezes pior que o Rodrigo, dão notas boas só porque engraçaram com ele. Eu bem sei.
E já falaste com o Rodrigo sobre a maneira como ele trabalha.
Claro e ele disse-me o mesmo, os professores tomaram-no de ponta. Até disse que não adianta estudar já sabe o que lhe vai acontecer.
E é o quê?
Chumbar é claro, os professores são assim, só passam quem eles querem, é o que eu te digo, tomaram o meu Rodrigo de ponta.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa, é uma situação complicada. O que fazer? Não ia com certeza à escola bater "nos" (nem que fosse apenas um) professores. O facto de serem vários e não apenas um leva-me a entender que se calhar o problema está mesmo no rapaz. No entanto nem todos os professores o "tomaram de ponta". O comportamento não parece ser um problema (tem uns fogachos, mas qual é o miudo saudável que não tem). A outra mãe faz uma excelente pergunta: "já falaste com os professores?" O Rodrigo está com dificuldades a 3 disciplinas: matemática, inglês e ciências. Há que pô-lo de novo na corrida. Mas a atitude desta mãe é um obstáculo. Pois se a propria mãe culpa os professores e diz que não há nada a fazer, que menssagem está a passar ao filho? "Desiste filho, tomaram-te de ponta. A escola é assim, quando quer, lixam-nos, é isso que a escola é." Isto é trágico para os alunos, futuros adultos desta sociedade, logo isto é trágico para Portugal. Há que fazer tudo por tudo para que a relação entre a escola e a família seja positiva. Para que os pais e os filhos digam: estar na escola é um prazer, eu gosto de estar na escola. Porque uma criança tem todo o direito de não gostar de estar na escola.

Maria Manuel disse...

A mãe do Rodrigo é má mãe, má encarregada de educação e má cidadã pelo simples facto de falar por falar, isto é, por mostrar que não sabe nada de nada! Não conhece a escola do filho, não conhece os professores, desconhece o que são critérios de avaliação, e que tem direito a informar-se sobre eles, e desconhece, ainda, que, quando existem dúvidas, as pessoas dialogam umas com as outras, designadamente os directores de turma com os encarregados de educação. Aliás, existe até uma Caderneta Escolar, no Ensino Básico, através da qual a mãe do Rodrigo poderá solicitar informações sobre a situação escolar do filho.
Os professores, na sua maioria, são gente séria e trabalhadora. É por causa de mães como a do Rodrigo e dos muitos rodrigos, intelectualmente miseráveis, que povoam as escolas, que, a médio prazo, não haverá professores capazes para os aturar!
Enfim, a imbecilidade é, talvez,um fado, ou fardo, lusitano, se já no século XVI Camões escreveu:
«O favor com que mais se acende o engenho/ Não no dá a pátria, não, que está metida/ No gosto da cobiça e da rudeza/ Dua austera, apagada e vil tristeza.» Os Lusíadas, Canto X