terça-feira, 9 de março de 2010

SEQUESTRADOS EM CASA

Há uns dias, a propósito de um estudo que permitia encarar com algum optimismo a velhice em 2050, chamei a atenção para a situação actual e no futuro mais próximo. Hoje volto à questão referindo um aspecto pouco presente na agenda e do qual, felizmente, o JN de hoje dá nota.
Por políticas urbanistas e opções em matéria de arquitectura incompetentes temos um número muito significativo de edifícios, sobretudo em zonas urbanas, que mesmo construídos mais recentemente e possuindo, por isso, elevadores, apenas são acessíveis por escadas. Há muitas situações deste tipo a que acrescem, obviamente, as construções antigas sem elevador.
Com o envelhecimento das populações e consequente perda de mobilidade cada vez mais encontramos pessoas que não podem sair à rua porque não conseguem utilizar o único acesso possível, as escadas. O JN na peça que apresenta, refere um conjunto de prédios em Almada, a minha terra, onde habitam cerca de 100 famílias e em que alguns dos mais velhos passam anos sem sair de casa pois para o fazer só com a ajuda, de bombeiros por exemplo. Claro que estas pessoas só sairão de casa em caso de extrema necessidade e com a maior dificuldade.
Parece estranho mas esta gente vive sequestrada em casa. Em zonas antigas e com a incompetência na construção mais moderna, este problema atingirá um número muito significativo de pessoas que continuará a crescer devido ao envelhecimento.
A minimização deste problema poderia até ser um contributo para atenuar o impacto da crise económica pois, para além dos grandes investimentos públicos, poderiam as autarquias, com apoios centrais, desenvolver programas de requalificação do já edificado e atenuar, assim, muitos dos problemas de mobilidade e acessibilidade dos mais velhos.
É ainda de considerar o grande impacto que isto teria na qualidade de vida e no combate à solidão, a principal doença da velhice.

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