sábado, 16 de maio de 2009

O HOMEM A QUEM CHAMAVAM CONTRAMÃO

Era uma vez um homem, chamavam-lhe o Contramão. A sua vida foi estranha, por razões que nunca soube entender parecia que as circunstâncias determinavam que ele fizesse o contrário do que seria de esperar.
Logo em pequeno, aprendeu bem as coisas da escola, mas fazia as coisas conforme elas eram para ser feitas. Se o assunto da escrita era um, ele escrevia sobre outro, se os problemas eram para resolver de uma maneira, resolvia-os de uma outra que nem ele próprio sabia explicar. Gostava de jogos e brincadeiras que não interessavam mais ninguém. Gostava de ler, mas lia os livros que ninguém da sua idade lia. As pessoas que o conheciam já não se admiravam. Ele andava sempre ao contrário dos outros, era o Contramão. Enamorou-se da mais improvável das raparigas e arranjou uma profissão mal paga e que, praticamente, já não atraía ninguém, era pensador, estava o dia inteiro a pensar, quase sempre naquilo que não passava pela cabeça dos outros, o que lhe criava muitos embaraços, era o Contramão.
Já velho, assumia comportamentos que os outros achavam despropositados mas de que não se admiravam. Afinal, vinham de um tipo a quem chamavam Contramão.
Um dia, sem que nada o fizesse prever, de repente partiu, para sempre. Ainda ouviram o Contramão dizer, “maldita, apanhou-me em contra pé”.

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