terça-feira, 16 de dezembro de 2008

NÃO SE GOVERNA PELA RUA, MAS É PRECISO OUVIR A RUA

Se considerarmos a posição de Mário Soares hoje expressa no DN, que me parece conter algum realismo, ainda menos se percebe a sua intervenção na semana passada, quando afirmou que, por estarmos em tempo de crise, não é oportuno fazer guerra política. Parece-me justamente o contrário, quanto mais difíceis e complexos são os tempos, mais é exigido que as lideranças políticas sejam consistentes, sólidas e capazes de congregarem as comunidades em projectos de ultrapassagem das dificuldades e restauradores da esperança e essas lideranças emergem da luta política. Os grandes lideres políticos as últimas décadas emergiram sempre em tempos de dificuldade, nunca em tempos de bonança. Assim sendo, a luta política é imprescindível no sentido de clarificar ideias, definir alternativas, identificar projectos, mas ao serviço das comunidades e não ao serviço de projectos pessoais que, estes sim, representam a política com “p” pequeno referida na espantosa intervenção da deputada do PS, Marta Rebelo, a propósito do triste episódio das faltas dos deputados.
A grande questão será perceber se o actual cenário político contém esse potencial de liderança e federação de projectos que contribuam para, em tempos difíceis, definir propostas de desenvolvimento e melhoria do bem-estar comum. De facto, temos um PS acantonado e acomodado à sombra de um líder, Sócrates, sem capacidade para dialogar e federar, mas com um projecto de poder. Existe a excepção do habitual Manuel Alegre, que agora agita agora a hipótese de ir a votos não se sabe muito bem com quê, nem com quem. Temos o PSD em implosão e nas habituais lutas pelo poder interno, um CDS-PP, espécie de sociedade política unipessoal e o Bloco e PC em disputas inócuas sobre quem é a verdadeira esquerda, seja lá isso o que for nos tempos que correm.
Neste caldo, ou aparece um D. Sebastião tão ao nosso gosto, ou o risco de convulsão social é sério por ausência de projectos reguladores ou esperamos que a comunidade tenha a capacidade de produzir, até para além da vida partidária, um projecto que lhe devolva confiança e esperança no futuro.

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