sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

NICHOS DE MERCADO

O Público de hoje volta a uma questão que não é nova, mas cujos dados têm evoluído. Portugal é o segundo país da UE, depois da Itália, com mais partos realizados por cesariana. De facto, 33.5% dos partos são cirúrgicos, enquanto na Holanda, o país com níveis mais baixos, é de 15,1, uma diferença espantosa. Algumas das explicações, como o aumento de risco em alguns casos de gravidez, opções das mulheres ou indicações da OMS, certamente importantes, parecem-me que escondem a questão central, também o parto é um negócio. Isto é tanto mais evidente, quando verificamos que, de acordo com os dados do Relatório do Projecto Euro-peristat, o número de partos por cesariana realizado em estruturas privadas de saúde é o dobro, apenas o dobro, do realizado em serviços públicos. Esta parece-me que constituirá o maior obstáculo ao cumprimento do objectivo de baixar para números razoáveis o recurso à cesariana.
Sendo claras as estratégias comerciais destinadas a crianças e adultos jovens, estava a lembrar-me de uma peça televisiva que há umas semanas vi sobre o incremento exponencial dos negócios em torno dos funerais, com oferta de serviços inimagináveis, e de um trabalho sobre a crescente importância económica de nichos de mercado especificamente dirigidos para os seniores, constatando que, cada vez mais e inexoravelmente, o cidadão, qualquer cidadão, é um alvo comercial do nascimento até à morte. Não há volta a dar, é a economia, estúpido.

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