sexta-feira, 15 de agosto de 2008

TEMPOS DA VIDA

É inevitável. Sempre que mais um ano passa por nós, pensamos no tempo e nas alterações que se vão verificando na relação com ele. Quando era miúdo, jovem, há já muitos anos, tinha a sensação de que o tempo demorava muito tempo, demasiado tempo, a passar. Era um tempo de pressa, de cres-ser. Quando comecei a minha vida profissional e vida familiar própria, emergiu a dificuldade de transformar, organizar o tempo, tanto sobrava como faltava. A partir de certa altura, não sei dizer qual, a gente sente, a relação com o tempo muda significativamente e fica algo entre o ambíguo e o paradoxo. Por um lado, sentimos que a velocidade do tempo é bem superior à do relógio, o amanhã é ontem, com tanto ainda por fazer. Por outro lado, creio que se consegue assumir uma atitude de serenidade face às coisas da vida, ao tempo, que retira pressa e, apesar da Atenta Inquietude, nos dá brandura como se diz no meu Alentejo.
Este tempo velho também nos faz olhar para dentro e perceber o gozo de começarmos a atingir, do ponto de vista social, alguma inimputabilidade. Não se assustem, é que quando dizia ou fazia certas coisas aos vinte e poucos recolhia, frequentemente, um olhar reprovador. Actualmente, as mesmas afirmações ou comportamentos garantem-me um sorriso de condescendência e empatia, “já velho e como ele se porta”. Porreiro pá, como diria o Engenheiro. Outra enorme conquista do tempo velho é a possibilidade de contar histórias, no fundo é isso que se espera e, talvez por isso, cada vez gosto mais de histórias. Finalmente, chegando a este tempo velho, sabe bem uma viagem assim grande à beira de quem gostamos.
Pois então … que contem muitos.

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