terça-feira, 13 de maio de 2008

FALAR NO BARCO, NÃO É EMBARCAR

A polémica que se tem desenvolvido em torno do “Dicionário de calão” publicado no sítio do Instituto da Droga e da Toxicodependência ilustra, em minha opinião, o tipo de equívocos que, recorrentemente, atravessam a nossa comunidade. Um destes equívocos é “falar de algo, faz com que algo aconteça”. Esta ideia tem tido variantes em vários domínios, por exemplo, “é melhor não falar de sexualidade porque os adolescentes podem lembrar-se de … pecar”, “não se aborda problemas de delinquência, porque a rapaziada pode lembrar-se de começar a roubar”, “não se fala de mal-estar em jovens porque eles podem deprimir-se e desenvolver ideias perigosas” e também, naturalmente, “falar na droga pode estimular nos meninos e adolescentes a curiosidade sobre tal matéria”.
É sabido que, em termos genéricos, quanto mais informação temos sobre qualquer questão, mais bem preparados estaremos para lidar com ela. Este é um princípio fundamental. Por outro lado, actualmente, em muitas áreas e em diferentes idades se desenvolvem formas de comunicação interiores a essas áreas quase inacessíveis a quem está de fora. Um bom exemplo desta comunicação é a linguagem que os mais novos usam em SMSs que, por vezes, é quase indecifrável para nós, pelo menos para mim. Assim, o facto de se disponibilizar informação que permita, por exemplo a pais, entender a comunicação entre “habitantes” de um determinado universo, parece-me uma iniciativa ajustada. Devo ainda sublinhar que, só por ingenuidade ou ignorância, é que se pode sustentar que qualquer criança ou adolescente que queira “experimentar” irá buscar auxílio ou informação no sítio do … Instituto da Droga e da Toxicodependência.
Finalmente, poderemos discutir aspectos de forma e, até, alguns aspectos de conteúdo, mas recusar informação não me parece, por princípio, boa ideia.

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